A imprensa brasileira, com medo da regulação e assediada por patrulhas internas e externas, está se tornando uma agente da ditadura do falso consenso: emburrece o debate, sataniza a divergência e lincha pessoas por delito de opinião. Ou: Beijo na boca não pode ser a outra forma do escarro
Ontem
você encararam com galhardia um texto longo. Aí eu me animo, né? Mais
um do mesmo porte. Quem me detesta já desiste; quem gosta faz a festa.
*
Um deputado que não pensa segundo os cânones de certa militância política assume uma comissão da Câmara. Tem início uma campanha para esmagá-lo, à qual adere quase toda a imprensa, ao arrepio de qualquer fundamento que orienta a boa prática jornalística. O secretário particular de um governador de estado emitiu, antes ainda de ocupar a atual função, opiniões políticas distintas daquelas consideradas “progressistas”. Um colunista de jornal se sente no direito de cobrar desculpas desse governador, e o veículo no qual ele trabalha dá início a uma campanha de desmoralização do funcionário. Um senador, possível candidato à Presidência da República, chama o, digamos, “evento” de 1964 de “revolução”, e tem início uma patrulha agressiva porque, sustenta-se, o certo seria chamar de “golpe”. Pessoas e forças políticas que se oponham às posições consideradas “corretas”, quando não ignoradas, são impiedosamente ridicularizadas, tratadas como idiotas, vistas como expressões do atraso. A democracia brasileira está doente, e o nome dessa doença é intolerância. A imprensa, que deveria denunciá-la, transformou-se em agente do linchamento da divergência. Com medo a regulação, assediada por patrulhas internas e externas, torna-se, a cada dia, mais refém dos grupos de pressão e das militâncias organizadas. Quando não é ativamente fascitoide, é de uma pusilanimidade espantosa. Fecho este parágrafo assim: não existe esta sociedade de um lado só em nenhum lugar do mundo — ou, para ser mais preciso, em nenhuma democracia do mundo. Sociedade de massa de um lado só é fascismo.
*
Um deputado que não pensa segundo os cânones de certa militância política assume uma comissão da Câmara. Tem início uma campanha para esmagá-lo, à qual adere quase toda a imprensa, ao arrepio de qualquer fundamento que orienta a boa prática jornalística. O secretário particular de um governador de estado emitiu, antes ainda de ocupar a atual função, opiniões políticas distintas daquelas consideradas “progressistas”. Um colunista de jornal se sente no direito de cobrar desculpas desse governador, e o veículo no qual ele trabalha dá início a uma campanha de desmoralização do funcionário. Um senador, possível candidato à Presidência da República, chama o, digamos, “evento” de 1964 de “revolução”, e tem início uma patrulha agressiva porque, sustenta-se, o certo seria chamar de “golpe”. Pessoas e forças políticas que se oponham às posições consideradas “corretas”, quando não ignoradas, são impiedosamente ridicularizadas, tratadas como idiotas, vistas como expressões do atraso. A democracia brasileira está doente, e o nome dessa doença é intolerância. A imprensa, que deveria denunciá-la, transformou-se em agente do linchamento da divergência. Com medo a regulação, assediada por patrulhas internas e externas, torna-se, a cada dia, mais refém dos grupos de pressão e das militâncias organizadas. Quando não é ativamente fascitoide, é de uma pusilanimidade espantosa. Fecho este parágrafo assim: não existe esta sociedade de um lado só em nenhum lugar do mundo — ou, para ser mais preciso, em nenhuma democracia do mundo. Sociedade de massa de um lado só é fascismo.
Se um dia o PT conseguir emplacar o “controle social da mídia” (algum controle virá, fiquem certos; lembro que o projeto defendido pelo partido
numa resolução do Diretório Nacional prevê controle de conteúdo), não
terá tanto trabalho assim. Restará uma cidadela ou outra a colonizar, a
domesticar, a domar, a dominar, a esmagar. O que Hugo Chávez conseguiu
na Venezuela por meio da violência está sendo paulatinamente conquistado
pelos petistas no Brasil por meio da cooptação e da ocupação das
redações por uma forma de militância política que já dispensa a
carteirinha de filiação. A fantasmagoria imaginada por Gramsci (que ele
achava ser a redenção da humanidade, o tarado!) começa a se
materializar. O teórico comunista italiano afirmava que o “Príncipe”
moderno não era mais, obviamente, aquele de Maquiavel. O “Moderno
Príncipe” era o partido político. E ele sintetizou, então, como seria a
sociedade sob o comando dessa força — eu não resisto à provocação —
verdadeiramente satânica:
“O Moderno Príncipe, desenvolvendo-se, subverte todo o sistema de relações intelectuais e morais, uma vez que seu desenvolvimento significa, de fato, que todo ato é concebido como útil ou prejudicial, como virtuoso ou criminoso, somente na medida em que tem como ponto de referência o próprio Moderno Príncipe e serve ou para aumentar o seu poder ou para opor-se a ele. O Moderno Príncipe toma o lugar, nas consciências, da divindade ou do imperativo categórico, torna-se a base de um laicismo moderno e de uma completa laicização de toda a vida e de todas as relações de costume”.
“O Moderno Príncipe, desenvolvendo-se, subverte todo o sistema de relações intelectuais e morais, uma vez que seu desenvolvimento significa, de fato, que todo ato é concebido como útil ou prejudicial, como virtuoso ou criminoso, somente na medida em que tem como ponto de referência o próprio Moderno Príncipe e serve ou para aumentar o seu poder ou para opor-se a ele. O Moderno Príncipe toma o lugar, nas consciências, da divindade ou do imperativo categórico, torna-se a base de um laicismo moderno e de uma completa laicização de toda a vida e de todas as relações de costume”.
Bingo! É a
definição do totalitarismo perfeito. Na sociedade antevista por
Gramsci, é impossível pensar fora dos limites do que estabelece, então,
esse “Moderno Príncipe”. Desaparecem as noções de crime e de virtude.
Esse ente de razão dirá quando cada ato é o quê, de sorte que, sob
certas circunstâncias, pode-se tomar o crime por virtude e a virtude por
crime. A verdade desse coletivo passa a ser o imperativo categórico.
Naquele longo texto de ontem,
em que afirmei que a causa gay está sendo usada como ponta de lança de
uma ação maior contra a democracia representativa, comentei um texto de
Vladimir Safatle (aquele humanista que toma um nascituro por uma
lombriga). Ele chama a ação fascitoide contra Feliciano (e não! Eu não
concordo com o deputado) de “o primeiro embate”. Segundo Safatle, as
ações contra o parlamentar representam uma “profunda discussão” sobre “a
sociedade que queremos”. Por alguma estranha razão, o seu “nós” — ele
se refere aos brasileiros — não inclui o “eles”. O seu “nós”, de uma
sociedade que chama “radicalmente igualitária”, exclui os que pensam de
forma diferente porque seriam apenas manifestações do atraso. Trata-se
da reiteração do pior lixo produzido pelas esquerdas em sua história.
Foi com essa visão de mundo que o comunismo se tornou a maior máquina de
matar que a civilização conheceu. Subjacente a esse pensamento está a
convicção de que a humanidade tem um sentido e uma direção — no artigo,
ele sugere que até a história tem uma moral intrínseca — e caminha
segundo alguma lei da evolução. E, é evidente, a esquerda estaria no
comando desse processo; estaria aí para acelerar a história. Como bom
esquerdista, Safatle nem aprendeu nada nem esqueceu nada.
Sou, no
entanto, realista e reconheço que eles estão avançando. Safatle mesmo só
se tornou colunista fixo de jornal depois de ter tido a ousadia de
especular, num artigo, sobre as virtudes da ação terrorista como um
campo pouco explorado de um humanismo alternativo. Ele resenhava o livro
de um delinquente intelectual chamado Slavoj Zizek. E, o que não me
surpreendeu, conseguiu piorar o original. Vejo o noticiário de TV, leio
jornais, revistas, sites… Escolhas políticas, valores ideológicos de
grupos, patrulhas as mais odientas, tudo aparece como se estivéssemos
diante de verdades universais. Nos dias de hoje, também o “Moderno
Príncipe” de Gramsci passou por um aggiornamento. As minorias formam as
células, que se organizam na rede, que é o partido. Aquilo que Marina
gostaria de fazer, o PT já fez. Faz sentido. Ela é de lá. É que tem mais
ambições do que o permitido…
Poder-se-ia,
ao menos, constatar, ainda que isso não mudasse o caráter autoritário
do que está em curso: “Pô, Reinaldo, vivemos nesse mundo sem
contraditório, mas reconheça que o Brasil está uma maravilha; estamos no
caminho certo!” Pois é. Não estamos! Um país que não debate, que vive
da reiteração das mesmas verdades, que sataniza o conflito de ideias,
que busca eliminar a divergência, vai dar em quê?
Voltando ao começo
O governador Geraldo Alckmin indicou para seu secretário particular um jovem advogado chamado Ricardo Salles. Não sei a idade, mas deve estar na casa do 30, 30 e pouquinhos. Não participou, portanto, do golpe militar de 1964. Antes de ser indicado para a função, integrou um grupo chamado “Endireita Brasil” — que era público, não clandestino. Ainda que pareça exótico aos ignorantes convictos, existe uma direita democrática. Já houve um tempo em que jornalistas sabiam quem era Churchill e ignoravam a Beyoncé da época, seja lá quem for essa… Frases ditas por Salles num debate no Clube Militar foram escandalosamente retiradas do contexto e lhe atribuíram o que não disse: ele teria negado a existência de tortura durante o regime militar. Não negou. Também se noticia em tom de escândalo o fato de que criticou os rumos tomados pela Comissão da Verdade. Mais: em algum momento, ele teria chamado a presidente Dilma de terrorista — o que ele nega. Não se reproduziu texto nenhum seu com essa afirmação.
O governador Geraldo Alckmin indicou para seu secretário particular um jovem advogado chamado Ricardo Salles. Não sei a idade, mas deve estar na casa do 30, 30 e pouquinhos. Não participou, portanto, do golpe militar de 1964. Antes de ser indicado para a função, integrou um grupo chamado “Endireita Brasil” — que era público, não clandestino. Ainda que pareça exótico aos ignorantes convictos, existe uma direita democrática. Já houve um tempo em que jornalistas sabiam quem era Churchill e ignoravam a Beyoncé da época, seja lá quem for essa… Frases ditas por Salles num debate no Clube Militar foram escandalosamente retiradas do contexto e lhe atribuíram o que não disse: ele teria negado a existência de tortura durante o regime militar. Não negou. Também se noticia em tom de escândalo o fato de que criticou os rumos tomados pela Comissão da Verdade. Mais: em algum momento, ele teria chamado a presidente Dilma de terrorista — o que ele nega. Não se reproduziu texto nenhum seu com essa afirmação.
Marcelo
Rubens Paiva, colunista do Estadão e filho do deputado Rubens Paiva —
que desapareceu em janeiro de 1971, sequestrado pela ditadura — passou a
pedir a cabeça de Salles, campanha endossada de maneira mais do que
indiscreta pelo Estadão, por meio de reportagens. Marcelo foi além e
exigiu, imaginem só!, uma “retratação” de Alckmin. De súbito, parecia
que o governador e seu secretário eram, sei lá, dois agentes da
ditadura.
Marcelo já
andou me criticando por aí. Respondi com bom humor. Ele pode achar que
não tenho o direito de pensar o que penso, mas defendo o direito que ele
tem de pensar o que pensa. Na minha República, haveria pessoas como
ele; na sua, desconfio que eu seria banido. Ele pode achar que assim
seria porque é melhor do que eu. Prefiro achar que assim seria porque
sou mais tolerante do que ele, ainda que eventualmente ele possa ser
melhor do que eu.
Acho
absolutamente compreensível que ele tenha uma percepção especialmente
aguda, dura mesmo, daquele período. Certamente não foi fácil para ele e
para sua família. Eu defendo a Lei da Anistia e acho um absurdo que a
Comissão da Verdade esteja forçando a mão para ir além do que estabelece
essa lei e a que criou a própria comissão. Mas me coloco na situação de
Marcelo e me pergunto se eu também, vivendo o que ele viveu, não
pensaria algo parecido. Tivessem sequestrado meu pai, seu corpo não
tivesse aparecido até hoje, com a memória do sofrimento da família…
Talvez eu quisesse revanche. Faço essa observação para deixar claro que
não arbitro sobre questões e dores pessoais.
“Não é
questão só pessoal; é também política!”, poderia objetar um indignado
apressado. Sim, eu sei. Mas nem a dor de Marcelo o autoriza a cassar de
alguém o direito à opinião. Tampouco o autoriza a cobrar do governador
uma retratação. Por quê? Com base em quê? E, se é de política que
estamos falando, indago: o filho de Rubens Paiva cobrou, alguma vez,
retratação de Lula por sua proximidade com alguns próceres do regime
militar, incluindo signatários do AI-5? Exigiu retratação de Fernando
Haddad por ter se abraçado a Paulo Maluf na eleição para a Prefeitura de
São Paulo — ou também Marcelo, a exemplo de Marilena Chaui, acha que,
agora, “Dr. Paulo” deixou de ser um homem da ditadura para ser apenas um
engenheiro? Salles não tem uma fatia do governo do Estado. Maluf tem um
fatia da Prefeitura. Salles tem apenas uma opinião. Maluf é poder.
Sem jamais
relativizar os fortes motivos que tem Marcelo, eu me pergunto em que
medida o passado está sendo usado para cuidar de demandas que dizem
respeito ao presente. Estou tratando de matéria de fato, não de opinião:
em 2013 (e desde 2003), é o PT que está próximo de fiéis servidores da
ditadura, não Alckmin ou o PSDB. O governador não participou do golpe,
tampouco seu secretário, que talvez tenha nascido já na década de 80.
Comissão da Verdade
Tenta-se fazer um escarcéu porque Salles seria “crítico” da Comissão da Verdade. Eu também sou. E daí? E fui perseguido pela ditadura, o que não é o caso de boa parte dos patrulheiros. Alguns tontos nem sabem do que estão falando. O grupo começou os trabalhos anunciando que ignoraria o próprio texto que o instituiu. Existe para apurar também os crimes de grupos terroristas. Já deixou claro que não vai fazê-lo. O respeito à Lei da Anistia é pressuposto de sua existência. Paulo Sérgio Pinheiro, o coordenador da comissão — e outros membros se manifestaram nesse sentido —, já evidenciou o seu inconformismo com esse limite. A questão não é só de gosto, mas também jurídica. A Lei da Anistia é parte do arcabouço legal que instituiu a Constituinte no país. Ademais, anistia — e já houve outas — quer dizer esquecimento (no quer tange às questões criminais e políticas), não absolvição.
Tenta-se fazer um escarcéu porque Salles seria “crítico” da Comissão da Verdade. Eu também sou. E daí? E fui perseguido pela ditadura, o que não é o caso de boa parte dos patrulheiros. Alguns tontos nem sabem do que estão falando. O grupo começou os trabalhos anunciando que ignoraria o próprio texto que o instituiu. Existe para apurar também os crimes de grupos terroristas. Já deixou claro que não vai fazê-lo. O respeito à Lei da Anistia é pressuposto de sua existência. Paulo Sérgio Pinheiro, o coordenador da comissão — e outros membros se manifestaram nesse sentido —, já evidenciou o seu inconformismo com esse limite. A questão não é só de gosto, mas também jurídica. A Lei da Anistia é parte do arcabouço legal que instituiu a Constituinte no país. Ademais, anistia — e já houve outas — quer dizer esquecimento (no quer tange às questões criminais e políticas), não absolvição.
Ora, então
não se pode ser um crítico da Comissão da Verdade — ou mesmo se opor à
sua existência na esfera da opinião (já que nada se pode fazer a
respeito) — sem que isso transforme o indivíduo num agente da ditadura?
Tenham paciência!
Terrorismo
Salles nega que tenha chamado a presidente Dilma de “terrorista”. Acredito nele. Também já me atribuíram tal coisa, e nunca ninguém encontrou o texto. O que escrevi, sim, e escrevo de novo agora, é que ela pertenceu a dois grupos terroristas. A presidente não é, obviamente, terrorista. A militante Dilma Rousseff foi. Não é matéria de gosto, mas de fato. Claro, claro, sempre se pode argumentar que o Colina e a VAR-Palmares, que lutavam por uma ditadura comunista e mataram inocentes em sua trajetória, só queriam democracia. Essa é certamente a conclusão a que a Comissão da Verdade já chegou — daí que não vá investigar os crimes de organizações do gênero. Mas essa é só uma das mentiras que vai contar essa comissão.
Salles nega que tenha chamado a presidente Dilma de “terrorista”. Acredito nele. Também já me atribuíram tal coisa, e nunca ninguém encontrou o texto. O que escrevi, sim, e escrevo de novo agora, é que ela pertenceu a dois grupos terroristas. A presidente não é, obviamente, terrorista. A militante Dilma Rousseff foi. Não é matéria de gosto, mas de fato. Claro, claro, sempre se pode argumentar que o Colina e a VAR-Palmares, que lutavam por uma ditadura comunista e mataram inocentes em sua trajetória, só queriam democracia. Essa é certamente a conclusão a que a Comissão da Verdade já chegou — daí que não vá investigar os crimes de organizações do gênero. Mas essa é só uma das mentiras que vai contar essa comissão.
Qual é o
problema do nosso jornalismo em encarar os fatos? Dilma tem orgulho de
sua biografia. Já deixou isso claro mais de uma vez. É ilegítimo que
pessoas possam ter uma abordagem crítica, negativa se for o caso, sobre o
seu passado? Por quê? Porque Salles pensa o que pensa, isso faz dele um
agente da ditadura, um homem conivente com a tortura, alguém
impossibilidade de exercer a função que exerce?
Um jornalismo que se entrega a essas especulações há muito abandonou o sua missão. Está fazendo campanha eleitoral antecipada.
Golpe ou revolução?
Nesta quinta, foi a vez de o senador Aécio Neves (PSDB-MG) entrar na dança. Num evento do seu partido, num dado momento, referiu-se a 1964 como “revolução”. A patrulha imediatamente apareceu: “Ah, ele chamou golpe de revolução”; “revolução é como os militares chamaram o seu golpe”. Ora, até outro dia, os mesmos jornais que davam curso a essa questão ridícula referiam-se, em editoriais, àquele período como “Regime Militar”, e ao golpe como “Movimento Militar de 64”. E não era por imposição da censura nenhuma!
Nesta quinta, foi a vez de o senador Aécio Neves (PSDB-MG) entrar na dança. Num evento do seu partido, num dado momento, referiu-se a 1964 como “revolução”. A patrulha imediatamente apareceu: “Ah, ele chamou golpe de revolução”; “revolução é como os militares chamaram o seu golpe”. Ora, até outro dia, os mesmos jornais que davam curso a essa questão ridícula referiam-se, em editoriais, àquele período como “Regime Militar”, e ao golpe como “Movimento Militar de 64”. E não era por imposição da censura nenhuma!
Era
evidente que o senador não estava fazendo uma escolha política.
Referiu-se àquele tempo por uma das expressões pelas quais ficou
conhecido. Nada além disso. A conversa mole que se seguiu é só mais uma
manifestação desses tempos estúpidos, de embotamento da inteligência.
Sem contar que foi Tancredo Neves um dos protagonistas do fim do regime
militar.
E não que
essas coisas não devessem ser debatidas. Desafio qualquer historiador a
provar, com dados objetivos e exposição de critérios do que seja uma
coisa e outra, que 1930 tenha sido uma “revolução” e 1964 “um golpe”. Aí
o tontinho patrulheiro se assanha: “Lá vai o Reinaldo tentar provar que
os militares fizeram revolução”. Não, Zé Mané! Eu afirmo que 1930
também foi GOLPE, escancarado sete anos depois. Não existe revolução sem
povo! De resto, povo por povo, havia muito mais em 1964 do que em 1930.
A República brasileira, como sabe qualquer estudioso, foi inaugurada
com uma quartelada.
Então por
que 1930 é “revolução”, o ditador Getúlio Vargas é um herói, e 1964 é
“golpe”, e os militares passam por esse processo de banditização? Por
ideologia rasteira. Os nossos historiadores se debruçaram sobre 1930 e
enxergaram ali o confronto entre progressistas e reacionários, entre o
Brasil arcaico e o Brasil moderno. Como se chegou à conclusão — e nem
contesto o mérito — de que houve um avanço, então é “revolução”. Já 1964
foi apenas “golpe” porque se entendeu que a nova ordem veio obstar a
ascensão das camadas populares revolucionárias… As camadas populares
revolucionárias não passavam de meia-dúzia de radicais, que não
resistiram ao primeiro tiro. Aliás, não se disparou em 1964 tiro nenhum.
Também a ambicionada “revolução socialista” não tinha… povo!
Um amante
da objetividade é obrigado a indagar se os pobres brasileiros melhoraram
ou pioraram de vida com o “golpe”. A pergunta pode ser feita ao
metalúrgico Lula, depois sindicalista, que viveu a era do milagre e
tinha, como já confessou em entrevista, o seu “carrinho”. Ia namorar de
táxi, ele contou — um luxo a que o trabalhador brasileiro não se entrega
ainda hoje.
O mesmo
critério que chamou de “revolução” a ditadura inaugurada em 1930 — “é o
moderno vencendo o arcaico” — poderia transformar em “revolução” também o
movimento de 1964. Também nesse caso o “moderno vencia o arcaico”. Ah,
mas, no regime militar, houve tortura e morte. E durante o Estado Novo?
Ora…
Caminhando para a conclusão
O Brasil precisa é de mais debate, não de menos; o Brasil precisa é de mais divergência, não de menos; o Brasil precisa é de mais dissenso, não de menos. E precisa de mais respeito às regras do estado democrático e de direito, não de menos.
O Brasil precisa é de mais debate, não de menos; o Brasil precisa é de mais divergência, não de menos; o Brasil precisa é de mais dissenso, não de menos. E precisa de mais respeito às regras do estado democrático e de direito, não de menos.
E olhem que isso tudo pode ser feito com muito beijo na boca.
Que as
bocas se beijem como expressão da tolerância, não para ofender aquele de
quem se discorda. Beijo na boca que ofende, modificando um pouco o que
disse o poeta, é só a outra forma do escarro.
Nenhum comentário:
Postar um comentário