02/04/2013
às 2:17Perdoai-os, cultores da democracia! Eles não sabem quem foi Montesquieu! Ou: Ódio à democracia atinge de Feliciano a Bento 16 num só protesto
Vejam esta foto de Sérgio Lima, da Folhapress.
Um grupo de 70 manifestantes, leio em texto de Fernanda Odilla, na Folha,
foi ao Palácio do Planalto protestar contra a permanência do deputado
Marco Feliciano (PSC-SP) na presidência da Comissão de Direitos Humanos e
Minorias da Câmara. Não só isso: ELES EXIGEM QUE A PRESIDENTE DILMA
ROUSSEFF TOME UMA PROVIDÊNCIA.
Vou
escrever de novo: os que foram se manifestar no Palácio do Planalto
cobram que a chefe do Poder Executivo tome uma providência contra o
presidente de uma comissão do Poder Legislativo. Ele só está lá porque
foi eleito deputado por 212 mil pessoas, porque foi referendado no cargo
pelos líderes partidários e porque, ora vejam, as esquerdas esnobaram
aquela comissão, que não rende dinheiro.
Eles
certamente conhecem o pensamento do deputado Jean Wyllys (PSOL-RJ), mas
não o de Montesquieu. Não têm ideia do que seja independência entre os
Poderes. Ignoram — ou, se sabedores, querem que seja Dilma a ignorar —
que, num regime democrático, o chefe do Executivo não impõe sua vontade
ao Parlamento. O que costuma acontecer é justamente o contrário.
A imprensa
faz uma cobertura sempre simpática aos manifestantes, pouco importa sua
pauta, pouco importam seus atos, porque vivemos dias em que as
garantias formais da democracia cedem aos apelos militantes das minorias
que se querem maiorias, fazendo de sua própria intolerância uma pauta
universal. A censura à liberdade de expressão e de opinião está em alta.
Tudo em nome dos “direitos”. Quem discorda não é mais alguém que pensa
de modo diferente, mas um ser que tem de ser banido do mundo dos vivos.
Leio na Folha:
“Dilma está calada, até agora não falou nada. A gente não vai parar até ele sair”, diz o publicitário Lucas Valle, 22, munido de um cartaz com os dizeres “Dilma, mulher, mãe, guerreira, torturada, presidenta: manifeste-se”.
“Dilma está calada, até agora não falou nada. A gente não vai parar até ele sair”, diz o publicitário Lucas Valle, 22, munido de um cartaz com os dizeres “Dilma, mulher, mãe, guerreira, torturada, presidenta: manifeste-se”.
Muito bem!
Digamos que ela se manifeste e também peça a saída de Feliciano. E daí?
Pergunta: Lucas Valle acha que a presidente também deveria se opor à
presença dos mensaleiros condenados José Genoino e João Paulo Cunha na
presidência da CCJ? Se acha, cadê o seu panfleto?
Outro cartaz exibido é ainda mais eloquente:
“Até o papa renunciou. Feliciano, sua hora já chegou”.
“Até o papa renunciou. Feliciano, sua hora já chegou”.
As
palavras fazem sentido. O “até o papa” poderia ser, assim, uma ordem de
grandeza apenas: se até Bento 16 renunciou, por que não o simples
presidente de uma comissão? Mas há mais do que isso.
O papa que
saiu não tinha uma pauta exatamente coincidente com a dessa turma (o
que entrou também não tem, note-se). Parece haver aí uma manifestação de
alívio. A coisa poderia ser dita de outro modo: “Já nos livramos do
papa; agora é a vez de Feliciano…”
Como
vivemos dias realmente surrealistas, cumpre observar que renúncia é ato
unilateral, como a do papa. Os manifestantes que foram ao Palácio do
Planalto não só pedem que o Executivo imponha sua vontade ao
Legislativo, como nos tempos da ditadura, como querem eles próprios
impor a Feliciano uma ação que só pode ser determinada por sua própria
vontade.
Eu não
tenho dúvida de que essa gente se acha um exemplo acabado de amor à
democracia. E não duvido de que amplos setores da imprensa pensem a
mesma coisa.
Até o dia
em que vai aparecer um grupo com velas acesas para defender o “controle
social da mídia”, o “controle social do humor”, o “controle social da
opinião”.
Tomara que ainda haja gente para protestar contra os controladores, para lembrar Niemöller.
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